A polarização política se reflete nos meios de comunicação, o que confunde perigosamente o limite entre informação e opinião, contribuindo para um clima de desconfiança em relação ao jornalismo. A liberdade de imprensa também está ameaçada por uma nova onda de abusos contra jornalistas durante protestos antigovernamentais.
Cenário midiático
No âmbito nacional, o mercado espanhol se caracteriza por uma elevada concentração dos meios de comunicação. Os grupos privados de mídia audiovisual Atresmedia e Mediaset e o serviço público RTVE representam mais de 75% do mercado. Em âmbito regional, o setor é marcado pela forte presença dos meios de comunicação públicos reunidos na FORTA (Federação de Organizações ou Entidades Regionais de Rádio e Televisão), o que aumenta o risco de interferência política. A diversidade no setor de imprensa escrita é maior.
Contexto político
Impulsionada pela polarização da sociedade espanhola, parte da mídia substitui cada vez mais informação por opinião, um fenômeno que, por sua vez, alimenta a desconfiança geral dos cidadãos em relação aos jornalistas. O apoio dos partidos independentistas à coligação de esquerda que permitiu a Pedro Sánchez renovar seu mandato como Primeiro-Ministro revelou a extensão desse fenômeno. O grupo de extrema direita Vox continua a disseminar informações falsas e a negar acesso a jornalistas e meios de comunicação aos seus eventos.
Quadro jurídico
Tendo o governo e os seus aliados parlamentares descumprido a promessa de revogar os artigos mais controversos da “lei da mordaça” durante a legislatura anterior, o texto permanece em vigor dez anos após a sua adoção, apesar dos compromissos reiterados de reformá-lo. Certos “crimes de opinião”, como os “insultos à coroa” ou a “ofensa aos sentimentos religiosos”, tampouco foram descriminalizados e são objeto de um novo debate parlamentar que se arrasta.
Contexto económico
A forte concentração dos meios de comunicação privados é acompanhada pela opacidade sobre a verdadeira influência dos proprietários de mídia sobre atores públicos. Esta falta de transparência afeta também despesas com publicidade da administração pública e de grandes empresas do setor privado. Desde a crise econômica de 2008 e a perda de empregos que ela gerou nos meios de comunicação, a profissão de jornalista vive uma precariedade crônica.
Contexto sociocultural
Numa sociedade espanhola tolerante e aberta à diversidade, os jornalistas raramente enfrentam pressões que não sejam das autoridades. Contudo, a crescente polarização e radicalização da opinião pública resulta num clima de hostilidade para com os jornalistas, uma das profissões menos apreciadas pelos espanhóis.
Segurança
A formação de um novo governo de esquerda e a lei de anistia para os líderes independentistas catalães desencadearam numerosas manifestações da direita, sobretudo da extrema direita, durante as quais aumentaram os abusos contra a imprensa. Insultos, agressões físicas, assédio – cobrir manifestações voltou a ser uma atividade arriscada na Espanha. Esse clima de hostilidade se reproduz nas redes sociais, onde trolls de extrema direita e extrema esquerda atacam constantemente os profissionais da informação.