Riquíssimo emirado do Golfo, o Catar construiu um império de mídia cujo impacto pode ser medido em todo o mundo árabe e além. No entanto, informar sobre questões políticas domésticas continua sendo um verdadeiro desafio para os jornalistas.
Cenário midiático
A imprensa tradicional do Catar se distingue pela homogeneidade de sua cobertura: as mesmas manchetes ganham a primeira página e destacam as ações do emir e de sua comitiva. O canal de televisão Al Jazeera é o mais conhecido no mundo. Um embrião muito limitado de pluralismo encontra-se na existência de meios de comunicação comunitários em diferentes idiomas dirigidos por cidadãos expatriados, como o site de notícias Doha News.
Contexto político
A linha editorial da mídia está intimamente ligada ao contexto político do momento. Durante as Primaveras Árabes, a cobertura das revoltas populares estava diretamente alinhada com a posição oficial do Catar. O tratamento da informação tem sido orientado ora pelo bloqueio que lhe foi imposto em 2017 pelos vizinhos do Golfo, ora pelo restabelecimento de suas relações diplomáticas.
Quadro jurídico
Apesar de ter havido uma flexibilização das restrições durante a Copa do Mundo de futebol, em 2022, os jornalistas têm pouca margem de manobra diante de um arsenal jurídico repressivo e de um forte sistema de censura. Uma lei sobre crimes cibernéticos adotada no fim de 2014, e endurecida em 2020, impõe restrições aos jornalistas e criminaliza a divulgação de “notícias falsas” na internet.
Contexto económico
A rede Al Jazeera, financiada pelo Estado, conta com recursos consideráveis e um conjunto de apresentadores que recebem uma remuneração suficientemente confortável para ignorar assuntos comprometedores para o seu empregador, incluindo alguns apresentadores estrelas que são extremamente populares no mundo árabe.
Contexto sociocultural
O Catar possui uma população majoritariamente imigrante, o que se reflete na diversidade de jornalistas empregados na mídia local. O destino dos trabalhadores imigrantes, em especial daqueles mobilizados para os canteiros de obras da Copa do Mundo de 2022, é assunto tabu no país. Ainda que a seção inglesa da Al Jazeera tenha dedicado algumas reportagens a esse assunto, nada foi reportado na matriz, a seção árabe. A religião, a pessoa do emir, os direitos das mulheres ou mesmo os direitos LGBT são temas igualmente restritos.
Segurança
Vários jornalistas foram detidos, presos e até mesmo deportados, na maioria dos casos por terem demonstrado interesse demais pelas condições de trabalho dos imigrantes. As autoridades não hesitam, se necessário, em condenar blogueiros residentes no país por “disseminação de informações falsas”. Foi assim que o blogueiro Malcolm Bidali foi mantido na prisão durante um mês até ser deportado para o seu país de origem, o Quênia, mediante o pagamento de uma multa.