Os meios de comunicação estão entre as vítimas da violência generalizada que reina em El Salvador. Desde que assumiu a presidência, em junho de 2019, o presidente Nayib Bukele ataca e ameaça jornalistas críticos a seu governo. A profissão é marcada pelo assédio aos veículos de comunicação críticos ao governo, assim como pela criminalização dos profissionais que cobrem segurança pública e gangues. O uso de trolls reforça a narrativa oficial, e informações sobre assuntos de interesse público tornaram-se confidenciais desde a pandemia.
Cenário midiático
O panorama midiático salvadorenho é relativamente diversificado, dividindo-se entre os meios considerados tradicionais, sobretudo a imprensa escrita (El Diario de Hoy, La Prensa Gráfica, El Mundo), canais de notícias e estações de rádio. Os últimos anos testemunharam o surgimento das mídias digitais, muitas das quais dedicadas ao jornalismo investigativo, como as revistas digitais El Faro e FACTum. O Executivo do presidente Nayib Bukele dirige o jornal El Salvador, financiado com verbas públicas e dedicado a divulgar propaganda oficial e atacar a oposição. O mesmo ocorre com o programa de notícias El Salvador, transmitido pela emissora pública Canal 10.
Contexto político
O governo responde à pressão constante da oposição acusando os veículos de comunicação que investigam os gastos do Estado de estarem a serviço dessa oposição, a fim de desacreditar os críticos. O presidente Nayib Bukele exerce uma pressão particularmente forte sobre os jornalistas e recorre à tática extremamente perigosa de apresentar os veículos de comunicação como inimigos do povo. Uma reportagem da Reuters revelou, em novembro de 2022, a existência de uma “fábrica de trolls” a serviço do presidente. Existem também indícios de ações de intimidação, como batidas policiais em escritórios de veículos independentes.
Quadro jurídico
Em El Salvador, a liberdade de expressão é garantida pela Constituição, o que não impediu o presidente de declarar confidencial todas as informações sobre gastos públicos durante a pandemia. Desde março de 2022, com o apoio da Assembleia Legislativa e no âmbito da chamada guerra às quadrilhas, o governo manteve o estado de emergência, que limita garantias constitucionais, como a confidencialidade da correspondência privada. A Assembleia também estabeleceu penas que vão de 10 a 15 anos de prisão para aqueles que, por meio do uso de tecnologias da informação e da comunicação (TIC) e de meios de comunicação, transmitam mensagens provenientes ou supostamente provenientes de grupos criminosos que possam gerar pânico na população.
Contexto sociocultural
Devido à retórica dominante anti-imprensa, os jornalistas enfrentam ataques constantes nas redes sociais e, em alguns casos, ameaças à sua integridade física e à integridade de seu equipamento. Funcionários públicos de alto escalão também estão na origem de ataques e campanhas de difamação. A maioria dos jornalistas agredidos são mulheres.
Segurança
Nenhum jornalista foi assassinado em El Salvador, mas a polícia já agrediu profissionais da informação que cobriam determinados eventos, sem nenhuma justificativa legal e com total impunidade. A investigação sobre o relatório da organização The Citizen Lab sobre o uso do spyware Pegasus para monitorar ligações telefônicas de jornalistas e membros de organizações da sociedade civil entre 2020 e 2021 também está parada. Em 2022, dez jornalistas (sete homens e três mulheres) foram para o exílio.