Ásia-Pacífico
Cambodja
-
Ranking 2024
151/ 180
Nota: 34,28
Indicador político
163
20.21
Indicador econômico
168
27.55
Indicador legislativo
152
36.32
Indicador social
158
32.54
Indicador de segurança
122
54.80
Ranking 2023
147/ 180
Nota: 42,02
Indicador político
156
38.50
Indicador econômico
171
27.84
Indicador legislativo
135
46.42
Indicador social
115
57.27
Indicador de segurança
144
40.05

A transição democrática iniciada no final da década de 1980 permitiu o surgimento de uma imprensa florescente até o ex-Primeiro-Ministro Hun Sen lançar uma guerra implacável contra o livre exercício do jornalismo, em 2017. O seu triste legado de repressão contra os meios de comunicação independentes parece ser continuado pelo seu filho, Hun Manet, no poder desde 2023.

Cenário midiático

As principais emissoras e os poucos jornais restantes seguem geralmente a narrativa do governo. Muitos temas são impossíveis de cobrir, como a oposição política, a corrupção e o desmatamento. Apesar do número crescente de meios de comunicação online, poucos fornecem informações equilibradas. Apenas alguns meios de comunicação cambojanos independentes, que transmitem do estrangeiro, fornecem informação de qualidade. O fechamento do veículo online Voice of Democracy (VOD), em fevereiro de 2023, pelo ex-Primeiro-Ministro Hun Sen, desferiu um golpe quase fatal no panorama dos meios de comunicação independentes do país. Durante 20 anos, o seu site de notícias e canal de vídeos online desempenhou um papel importante na divulgação de informação independente.  Nascido das cinzas do VOD, o site de notícias Kamnotra é uma das últimas plataformas de notícias independentes ativas no país.

Contexto político

Preocupado em ceder o poder após mais de 30 anos de governo, o Primeiro-Ministro Hun Sen lançou uma guerra implacável contra a imprensa antes das eleições legislativas de 2018: rádios e jornais silenciados, redações expurgadas e jornalistas processados. O contexto do jornalismo independente emergiu devastado antes mesmo de passar o poder ao seu filho Hun Manet, em agosto de 2023. Desde então, as poucas iniciativas que tentam sustentar o jornalismo independente atraíram sistematicamente a ira dos que estão no poder, como evidenciado pela nova onda de repressão lançada pelo governo antes das eleições de julho de 2023. O regulador das telecomunicações bloqueou sobretudo o acesso à Radio Free Asia, ao diário Cambodia Daily e ao veículo online Kamnotra.

Quadro jurídico

Já em 1992, o Camboja ratificou o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e implementou várias medidas para garantir o livre exercício do jornalismo. Uma lei de imprensa foi adotada em 1995 para favorecer a solução amigável de disputas relacionadas à difamação. Mas, na prática, as autoridades recorrem mais frequentemente ao Código Penal, invocando os artigos 494 e 495, relativos à “incitação ao crime”, para perseguir e prender, sem mandado, jornalistas que investigam questões delicadas. O primeiro-ministro também aproveitou a crise da Covid-19 para aprovar uma lei sobre o estado de emergência que lhe permite censurar qualquer conteúdo jornalístico de que não goste.

Contexto económico

Quatro grandes grupos dividem o mercado de mídia convencional e todos são liderados por magnatas da imprensa próximos ao clã do Primeiro-Ministro. Por exemplo, a irmã dele, Hun Mana, é chefe de um gigantesco conglomerado proprietário de jornais, revistas, estações de rádio, canais de televisão e sites de notícias, sempre muito rápidos em elogiar os méritos do governo. Após a onda de fechamento de redações e reprimendas em 2017 e 2018, foi aberto o caminho para que os cambojanos só tenham acesso às informações divulgadas por grandes grupos ligados à família de Hun, bem como pela agência de notícias online Fresh News, fonte de propaganda pró-governo.

Contexto sociocultural

Diante da mídia tradicional alinhada ao governo, os cambojanos recorrem à Internet, que vem crescendo desde o uso generalizado dos telefones celulares, para coletar e divulgar informações confiáveis e independentes. Mas ficam à mercê dos algoritmos do Facebook, a plataforma mais utilizada no país, que também tende a favorecer conteúdos patrocinados pelas autoridades. Acima de tudo, o governo sonha em montar uma espécie de grande muralha digital como na China: foi assinado um decreto para isso, dando ao Executivo o poder de monitorar todas as comunicações e bloquear determinados sites, criando um único ponto de acesso à rede, pelo qual os 15 milhões de internautas cambojanos terão de passar.

Segurança

O exercício do jornalismo ambiental é perigoso no Camboja. Dois repórteres foram assassinados em 2014 em conexão com suas investigações sobre desmatamento e pesca ilegal.  Desde o aperto de 2017, jornalistas podem ser presos sob pretextos espúrios, e alguns passam meses na prisão por acusações fantasiosas de "terrorismo" ou de "pornografia". A cobertura de qualquer caso de corrupção que afete direta ou indiretamente o clã do primeiro-ministro tornou-se quase impossível. Diante desses desafios, a proteção oferecida pela Aliança de Jornalistas do Camboja (CamboJA), criada no final de 2019, é como uma bolha de ar para os repórteres do país.