Mais da metade da população vive num país marcado em vermelho no mapa da liberdade de imprensa da RSF
O Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2024 da Repórteres sem Fronteiras (RSF) revela que mais de 50% da população se encontra num território onde a situação da liberdade de imprensa é “muito grave”. Em cinco dos países mais populosos, as recentes tentativas de controlar a informação durante as eleições são uma ilustração perfeita da extensão da repressão à liberdade de imprensa que estão sofrendo.
A constatação é assustadora. Mais de 50% da população mundial vive num território extremamente perigoso para a liberdade de imprensa, onde trabalhar como jornalista significa arriscar a vida ou a liberdade, enquanto somente menos de 8% da população se encontra num território cuja situação é “boa” ou "satisfatória".
No mapa do novo Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2024, esses 50% da população mundial estão distribuídos por 36 países (eram 31 em 2023), incluindo grandes potências demográficas. Cinco dos dez países mais populosos do mundo estão em vermelho no mapa da liberdade de imprensa da RSF: Índia (159º), China (172º), Paquistão (152º), Bangladesh (165º) e Rússia (162º). Todos, exceto a Índia – atualmente em período eleitoral – tiveram eleições entre 2023 e o início de 2024, durante as quais os ataques à liberdade de imprensa apenas reforçaram a sua posição no final do Ranking.
“Os resultados do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da RSF, revelados em 3 de maio de 2024, Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, são alarmantes quanto ao estado do mundo. Mais da metade da humanidade encontra-se num território onde a situação da liberdade de imprensa é ‘muito grave’. Uma situação que se revela de forma flagrante durante o período eleitoral, como demonstram os graves obstáculos ao direito à informação impostos, durante o ano passado, nos cinco gigantes demográficos globais em vermelho no mapa do Ranking da Liberdade de Imprensa 2024. A RSF apela aos 36 países em vermelho nesse Ranking para que acabem com essas práticas, de maneira a remediar a situação.”
As eleições conduzem a tentativas de controle político da informação e a extensão desse controle é particularmente representativa do nível de liberdade de imprensa. Foi o caso de cinco gigantes demográficos na zona vermelha do mapa da liberdade de imprensa, que viveram períodos eleitorais particularmente emblemáticos da gravidade da ameaça que pesa sobre o direito à informação. A violência contra jornalistas, a censura e a desinformação, em particular, têm prejudicado as campanhas eleitorais nesses países desde 2023.
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Na China (172º), o presidente Xi Jinping foi reeleito para um terceiro mandato em março de 2023 na maior prisão de jornalistas do mundo, com mais de 110 defensores da liberdade de imprensa atrás das grades. Agora, ele procura exportar o seu modelo totalitário de controle da informação.
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Na Rússia (162º), antes das eleições presidenciais de março de 2024, novas leis para regular a Internet russa – “Runet” – visavam silenciar vozes dissidentes e limitar o acesso de mais de 140 milhões de habitantes a informações fiáveis.
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Bangladesh (165º), que, sem surpresa, reelegeu no início de janeiro de 2024 o seu Primeiro-Ministro, pelo quarto mandato consecutivo, viveu um ano pré-eleitoral de grande violência contra jornalistas, especialmente durante manifestações que favoreciam um clima de terror benéfico para o regime em vigor.
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No Paquistão (152º), a censura não oficial dos meios de comunicação por parte do serviço secreto paquistanês – suspeito de estar por trás dos assassinatos de jornalistas em escala internacional – foi reforçada, com o objetivo de apagar o partido do antigo primeiro-ministro Imran Khan do espaço midiático da campanha eleitoral de fevereiro de 2024.
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Na Índia (159º), enquanto o primeiro-ministro Narendra Modi, no poder desde 2014 – dez anos durante os quais 28 jornalistas foram mortos – procura um terceiro mandato, o flagelo das campanhas de desinformação e do assédio contra jornalistas continua a crescer, assim como as restrições de acesso ao país para jornalistas estrangeiros.
Um ano eleitoral cheio de perigos para a informação
Sendo o ano de 2024 um ano eleitoral sem precedentes – no total, 4,1 bilhões de eleitores, ou mais da metade dos habitantes do mundo, comparecerão às urnas em 76 países – os riscos de instrumentalização das informações pelas autoridades públicas são fortes. Já aparecem sinais de deterioração da liberdade de informação nos outros países mais populosos que não estão em vermelho no mapa e que se encaminham para eleições: o México (121º) e a Indonésia (111º) em situação “difícil”, bem como o Brasil (82º) e os Estados Unidos (55º) em situação “problemática”.