Os nomes dos vencedores do Prêmio RSF para a Liberdade de Imprensa 2022 são anunciados na presença de Dmitry Muratov, Prêmio Nobel da Paz

A cerimônia da 30a edição do Prêmio Repórteres sem Fronteiras (RSF) para a Liberdade de Imprensa, que aconteceu no dia 12 de dezembro em Paris e contou com a presença do Prêmio Nobel da Paz de 2021, condecorou a jornalista iraniana Narges Mohammadi (categoria Coragem), os dois jornalistas ucranianos Mstyslav Chernov e Yevhen Maloletka (categoria Impacto) e o jornalista marroquino Omar Radi (categoria Independência).

Há 30 anos, o Prêmio RSF para a Liberdade de Imprensa homenageia o trabalho de jornalistas ou meios de comunicação que tenham feito uma contribuição significativa para a defesa ou promoção da liberdade de imprensa em todo o mundo.  Organizada em Paris, depois de ter passado por Londres, Berlim e Taipei, a cerimônia de premiação aconteceu no dia 12 de dezembro na Avenida Champs Élysées com a presença de Dmitri Mouratov, editor-chefe do jornal Novaya Gazeta, de Moscou, e os Ministros da Cultura da França e da Ucrânia, Rima Abdul Malak e Oleksandr Tkachenko.

Os prêmios foram concedidos à jornalista iraniana Narge Mohammadi, atualmente presa por sua luta pela liberdade de imprensa e pelos direitos humanos (categoria coragem); aos jornalistas ucranianos Mstyslav Chernov e Yevhen Maloletka, únicos repórteres a documentar o bombardeio da cidade de Mariupol na Ucrânia por três semanas (categoria de impacto); e ao jornalista marroquino Omar Radi, hoje na prisão, vítima de assédio judicial por suas investigações (categoria independência). Ao todo, 15 jornalistas e meios de comunicação de 15 países diferentes foram indicados ao prêmio RSF 2022.

Em seu discurso de abertura, o jornalista russo Dmitry Muratov, Prêmio Nobel da Paz 2021, homenageou sua colega Anna Politkovskaya e os outros 1.200 jornalistas assassinados nos últimos 15 anos, ao evocar “uma nova era de confronto entre regimes ditatoriais ou autoritários e o jornalismo independente”, antes de continuar: “Se antigamente matavam jornalistas, agora são os meios de comunicação como um todo que são liquidados”. Assim, Muratov elogiou a coragem de sua colega também ganhadora do Nobel, a jornalista filipina Maria Ressa, que hoje corre o risco de ser condenada a 100 anos de prisão. 

“A cada edição, o prêmio é concedido a pessoas extraordinárias, que exercem o jornalismo para que vivam a democracia e os direitos humanos, para que os desafios da humanidade sejam enfrentados, global e localmente, para simplesmente, como disse Albert Camus, evitar que o mundo se desfaça“, declarou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, na abertura da cerimônia de entrega do prêmio.

O júri desta 30ª edição, composto por eminentes jornalistas e defensores da liberdade de expressão do mundo todo, foi presidido pelo jornalista e colunista francês Pierre Haski, presidente da RSF. Antigos vencedores do prêmio RSF participaram da cerimônia entregando os vários prêmios: Can Dündar, ex-editor do Cumhuriyet na Turquia; Lina Attalah, co-fundadora e editora-chefe do Mada Masr, jornal egípcio independente; e Matthew Caruana Galizia, jornalista investigativo, filho de Daphne Caruana Galizia, jornalista maltesa morta em 2017 na explosão de seu carro.

 

Prêmio Coragem

Narges Mohammadi (Irã) 

Presa há 12 anos por sua luta pela liberdade de imprensa e pelos direitos humanos, ela é um símbolo de coragem. Mesmo na prisão, continua informando sobre a terrível situação dos presos, principalmente das mulheres. Sua vida é uma luta e Narges Mohammadi faz enormes sacrifícios para que sua voz chegue até nós. Casada com um jornalista, Taghi Rahmani, ela tem dois filhos que não viu crescer: desde 2011, passou apenas alguns meses fora da prisão. Apesar de seus problemas cardíacos, recebeu 154 chibatadas, entre outros maus-tratos e torturas. No entanto, não perde a esperança e continua defendendo a desobediência civil, sempre com um sorriso no rosto. Publicou dezenas de artigos da prisão, produziu um documentário e escreveu um estudo sobre a “tortura branca”, White Torture, com base em entrevistas com 16 detentos.

 

Prêmio Impacto

Mstyslav Chernov e Yevhen Maloletka (Ucrânia)

Eles são os únicos jornalistas da imprensa internacional a ter documentado as consequências dos combates e bombardeios em Mariupol, na Ucrânia, durante 20 dias, em março passado, para a Associated Press. A foto de uma mulher grávida, ferida após o bombardeio de uma maternidade, em particular, correu o mundo, alertando para o que estava acontecendo na cidade sitiada. Procurados pelo exército russo devido ao impacto de suas imagens, os jornalistas atuam em condições extremamente difíceis, mas recebem a ajuda de pessoas conscientes da importância do seu trabalho. 

 

Prêmio Independência

Omar Radi (Marrocos) 

Jornalista investigativo e ativista de direitos humanos, apura há mais de dez anos temas ligados à corrupção e sofre com assédio judicial. Um inquérito por "espionagem" foi instaurado em junho de 2020 depois que a Anistia Internacional revelou que seu telefone havia sido hackeado via software Pegasus. Um mês depois, Omar foi preso após uma denúncia de estupro. Os dois casos foram tratados em conjunto, o que suscitou dúvidas sobre a idoneidade de seu julgamento – ainda mais considerando-se que ele já estava na mira das autoridades havia muitos anos. Em dezembro de 2019, foi condenado a quatro meses de prisão por "desacato ao tribunal" devido a um tuíte publicado oito meses antes. Contestando sua prisão preventiva, Omar Radi entrou em greve de fome, que precisou encerrar após 21 dias em função da doença de Crohn, da qual sofre. Desde então, está bastante debilitado.

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