Mídia latino-americana está sob controle de famílias, elites econômicas e políticas, conclui pesquisa
Estudo "Quem controla a mídia na América Latina?" será lançado no Brasil pelas organizações Repórteres sem Fronteiras e Intervozes
Na América Latina, os meios de comunicação estão sob controle do setor corporativo e de famílias empresariais que se vinculam às elites econômicas e políticas e usam sua capacidade de influenciar a opinião pública como capital. É o que conclui a pesquisa "Quem controla a mídia na América Latina?", que será lançada pelo Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social e Repórteres sem Fronteiras (RSF) em São Paulo e Fortaleza, no dia 3 e 5 de dezembro, com uma roda de conversa com especialistas. O estudo analisou a concentração dos meios de comunicação do Argentina, Brasil, Colômbia, México e Peru.
Na Argentina, por exemplo, os quatro maiores conglomerados concentram quase metade da audiência em todos os segmentos analisados, dos quais 25% só pelo Grupo Clarín. Na Colômbia, os três grupos de mídia com maior audiência controlam 57% do conteúdo que a sociedade pode acessar no rádio, TV, internet e mídia impressa. No Peru, um dado sem paralelos: 68% da audiência estimada para notícias online no país estão nas mãos de um só grupo. O poder da mídia no México anda de mãos dadas com a política, a metade do orçamento público para verba publicitária é alocada para apenas 10 dos grupos de mídia analisados neste estudo.
Apesar de toda a diversidade regional existente no Brasil e das dimensões continentais de seu território, os quatro principais grupos de mídia concentram uma audiência nacional exorbitante em cada segmento analisado, ultrapassando 70% no caso da televisão aberta, meio de comunicação mais consumido no país.
A pesquisa integra o Media Ownership Monitor (MOM), uma metodologia de mapeamento que gera uma base de dados acessível publicamente e atualizada constantemente sobre os principais proprietários dos meios de comunicação de um país, incluindo mídia impressa, rádio, televisão e online. O objetivo é lançar luz sobre os riscos que a concentração da propriedade representa para o pluralismo e a diversidade da mídia. O MOM também avalia qualitativamente as condições do mercado e o ambiente regulatório.
"Os grupos de mídia influenciam, e muito, nas dinâmicas de poder. No momento em que a América Latina vivencia conflitos e mobilizações intensas, é importante voltar a analisar o papel de grupos que historicamente exercem o poder fundamental de agendar as discussões, transmitir informações para a população e fiscalizar o Poder Público. Tudo isso com pouco ou nenhum espaço para a pluralidade e diversidade de ideias e opiniões", destaca Helena Martins, professora da Universidade Federal do Ceará e integrante do Conselho Diretor do Intervozes.
Para Emmanuel Colombié, diretor do escritório para a América Latina da RSF, “Pressões econômicas e concentração de propriedade podem limitar a capacidade do jornalismo de responsabilizar os que estão no poder. Com nossa pesquisa, queremos fornecer uma ferramenta para que todos os cidadãos possam entender melhor os interesses, poder e desafios que definem o ambiente em que a mídia latinoamericana opera”, pontua.
Para discutir os impactos dos monopólios midiáticos no cenário político da América Latina estarão presentes Emmanuel Colombié, diretor regional do escritório para a América Latina da Repórteres Sem Fronteiras; Gerardo Araguren, diretor do Tiempo Argentino e consultor do MOM Argentina, Luís Brasilinio, editor do Le Monde Diplomatique Brasil, bem como membros da equipe da Intervozes que conduziram o estudo MOM Brasil. Na ocasião, será apresentada uma cartilha com propostas de políticas para a promoção da pluralidade e da diversidade nos meios de comunicação.