Jornal é invadido e tem difusão entravada no dia das eleições
Repórteres sem Fronteiras denuncia os atos de vandalismo e as tentativas de censura de que foi alvo o Diário de Marília, no dia 1° de outubro de 2006. Esses atos foram cometidos por simpatizantes do ex-prefeito de Marília, Abelardo Camarinha, e de seu filho, Vinícius, deputado pelo Estado de São Paulo.
Repórteres sem Fronteiras denuncia os atos de vandalismo perpetrados, na manhã de 1° de outubro de 2006, contra a redação do Diário de Marília, na cidade do mesmo nome (Estado de São Paulo), por partidários do ex-prefeito, Abelardo Camarinha, e de seu filho, Vinícius, deputado estadual. A família Camarinha, já implicada no incêndio criminoso da sede do jornal, em 8 de setembro de 2005, reuniu os partidários para impedir a difusão da edição.
“Apesar dos numerosos processos que correm na justiça contra eles, da inelegibilidade pronunciada contra o ex-prefeito e das suspeitas de seu envolvimento no incêndio da sede do Diário de Marília, em setembro último, Abelardo Camarinha acerta impunemente contas com a imprensa. O ataque ao jornal tinha por objetivo impedir a publicação de um artigo que o colocava em causa. Logo, foi planejada. Expressamos nosso apoio à redação do Diário de Marília e pedimos que Abelardo Camarinha e o filho respondam perante a justiça por esse ataque à liberdade de imprensa, apesar dos apoios políticos com que contam”, declarou Repórteres sem Fronteiras.
Na madrugada de 1° de outubro, data do primeiro turno das eleições gerais, membros do comitê de apoio à candidatura de Abelardo Camarinha se reuniram na frente da sede do Diário de Marília, onde também estão instaladas duas rádios locais. Os militantes quebraram o vidro da entrada, ameaçaram os jornalistas presentes e exigiram a apreensão da edição do jornal daquele dia.
À tarde, uma juíza local emitiu ordem de suspensão da edição e fechamento do site Internet, a pedido de Vinícius Camarinha, deputado estadual, em virtude de um artigo que falava do processo de invalidação da candidatura de seu pai a deputado federal.
Duas horas mais tarde, um funcionário da justiça apresentou-se à redação para executar a ordem de apreensão da edição do jornal. À tarde, os advogados do jornal, Telêmaco Luiz Fernandes Júnior e Leonardo Frederico Lopes, apresentaram ao juiz pedido de revogação da decisão anterior, argumentando que o artigo em questão estava baseado em elementos comprovados. A polícia, que tinha conseguido dispersar os manifestantes, teve que voltar a intervir.
Em 17 de setembro último, Abelardo e Vinícius Camarinha foram condenados pela justiça eleitoral à multa de 14 500 euros cada um por “propaganda eleitoral antecipada”. Os dois homens haviam lançado sua campanha em alguns veículos da mídia desde o mês de junho. Já haviam sido condenados duas vezes pelo mesmo motivo. Em 29 de setembro, a procuradoria regional deu início a perseguição judicial por “abuso de autoridade” e « uso ilícito de instalações e pessoal públicos”, exigindo a inelegibilidade de Abelardo Camarinha até 2009 e a cassação do mandato de seu filho Vinícius. O chefe de redação do Diário de Marília, José Ursílio de Souza, tornou público o processo na edição de que os partidários da família Camarinha quiseram impedir a distribuição.
Em 8 de setembro de 2005, um incêndio criminoso destruiu a sede do jornal e de duas rádios, Diário FM e Dirceu AM. No dia 25 de janeiro de 2006, três homes foram condenados a doze anos de prisão, mas os nomes de Abelardo e Vinícius Camarinha foram citados várias vezes durante o inquérito como supostos mandantes do crime. No dia 14 de março deste ano, o irmão de Abelardo, Rafael Camarinha, também envolvido no caso, foi assassinado em sua residência por três homens armados. Desde então, Abelardo Camarinha acusa José Ursílio de ser responsável pelo crime.