Em 2023, a RSF prestou assistência financeira a mais de 400 jornalistas ameaçados em mais de 60 países
O serviço de Assistência da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) registrou um crescimento exponencial este ano nos pedidos de assistência de jornalistas ameaçados no exercício das sua atividade. Dois terços do apoio financeiro fornecido ajudaram a levar repórteres para um local seguro nos seus países e para apoiar jornalistas exilados.
O serviço de Assistência da RSF prestou auxílio financeiro a 460 jornalistas de 62 países ao longo de 2023 (o dobro do número de beneficiários em comparação com o ano anterior – 223 em 2022). No total, foram destinados este ano 998.302 euros de assistência financeira a jornalistas em situação de risco. O valor médio das bolsas enviadas é de 2 mil euros.
As quantias, enviadas aos jornalistas pelo serviço de Assistência da RSF, podem cobrir custos de relocação e segurança, gastos com assistência jurídica e médicos ou ainda com equipamento profissional. Este auxílio de emergência contribui para que os jornalistas continuem com sua atividade. Cada pedido de bolsa é minuciosamente verificado para documentar a experiência profissional do jornalista e as ameaças que enfrenta como resultado de seu trabalho.
“Os recursos emergenciais enviados pela RSF permitem aos jornalistas encontrar abrigo e continuar o seu trabalho, apesar das ameaças de prisão ou morte que podem pesar sobre eles em decorrência do seu exercício profissional. Em contextos marcados pela repressão e também pela desinformação e propaganda, apoiar os jornalistas no exercício da sua atividade é uma prioridade. Os recursos emergenciais são muitas vezes o primeiro elo de uma longa cadeia de apoio para que os jornalistas possam continuar a fazer ouvir as suas vozes em seu país ou no país onde encontraram refúgio.
Apoiar jornalistas nos países em crise
Embora a RSF apoie jornalistas ameaçados em todo o mundo, o mapa das subvenções enviadas em 2023 dos últimos dois anos tende a se sobrepor ao das grandes crises geopolíticas. Em 2023, os principais países de intervenção foram o Afeganistão (156 bolsas enviadas), seguido de Rússia (40), Mianmar (30), Palestina (27), Irã (23) e Sudão (19).
Acompanhar os jornalistas forçados ao exílio
Sessenta e seis porcento (66%) da assistência financeira fornecida pelo escritório de Assistência da RSF em 2023 destinava-se a cobrir os custos de segurança e relocação de jornalistas forçados ao exílio. Revelando a persistente insegurança enfrentada pelos jornalistas, esta distribuição de motivos para as bolsas tem sido constante nos últimos anos
No Afeganistão, onde a repressão aos jornalistas independentes é contínua desde que os talibãs regressaram ao poder, as detenções aumentaram em 2023. Muitos jornalistas tiveram que abandonar a profissão ou deixar o seu país para se refugiar no Paquistão, onde a sua situação administrativa e financeira é extremamente precária.
Também em Mianmar as repercussões do golpe de 2021 continuam a abalar o cenário da mídia, e a junta continua incansavelmente a sua guerra contra o direito à informação. Os jornalistas são obrigados a fugir para se refugiarem na Tailândia, onde continuam a exercer sua profissão da melhor forma possível. Muitos deles não têm vistos de residência permanentes na Tailândia e precisam se mudar frequentemente para evitar a detenção. Alguns continuam a atravessar de maneira regular e ilegalmente a fronteira com Mianmar, correndo o risco de serem detidos, para poderem continuar a cobrir notícias no seu país. As subvenções do escritório de Assistência permitem que paguem as despesas de alojamento e viagem.
No Sudão, em plena disputa de poder entre dois generais, muitos jornalistas sofreram ataques das partes em conflito e foram forçados a deixar o país. A assistência prestada pela RSF permitiu que cobrissem os custos de transporte e vistos necessários para alcançar a segurança.
No Irã, uma onda de repressão se abateu sobre os jornalistas que cobriram as manifestações após a morte de Mahsa Amini, tanto dentro do país como no exterior. O escritório de Assistência da RSF enviou recursos emergenciais a 23 deles para que pudessem encontrar abrigo.
Ajudar os jornalistas a continuar com seu trabalho de informar
Na Rússia, a repressão judicial também levou muitos jornalistas a fugir para a Europa e a continuar o seu trabalho lá, sobretudo na luta contra a propaganda. As subvenções permitem que cubram custos de auxílio administrativo e jurídico associados à obtenção de um visto permanente de residência.
Na Palestina, a situação é catastrófica para jornalistas presos em Gaza e ameaçados todos os dias com ataques do exército israelita. Em parceria com a Arab Reporters for Investigative Journalism (ARIJ), o escritório de Assistência da RSF enviou recursos a 27 jornalistas de Gaza, que puderam adquirir equipamento profissional. Telefones, e-SIM, computadores, baterias solares: eles podem assim continuar a informar o resto do mundo.