Crise política na Venezuela: quem são os oito jornalistas detidos injustamente?

Desde o início da campanha eleitoral, oito jornalistas foram presos em diferentes regiões da Venezuela por causa do seu trabalho. Eles são acusados de “terrorismo” e “incitação ao ódio”. A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) condena veementemente essa repressão levada a cabo pelo governo de Nicolás Maduro.

Na Venezuela, os jornalistas estão na mira de uma onda de repressão pós-eleitoral.  Pelo menos nove jornalistas foram detidos devido ao seu trabalho jornalístico e oito ainda estão na prisão, sob acusações forjadas e em condições preocupantes. 

Por “terrorismo”, “incitação ao ódio”, “associação criminosa”, Luis López, Yuosnel Alvarado, Paúl León, Deysi Peña, José Gregorio Camero, Eleángel Navas, Gilberto ReinaAna Carolina Guaita podem pegar entre 12 e 20 anos de prisão.

“Condenamos veementemente essas detenções e exigimos a libertação dos jornalistas. A sua detenção pelo exercício do seu trabalho envia uma mensagem terrível a todos aqueles que defendem o direito à informação no contexto da grave crise política que o país atravessa. A generalização e banalização das acusações de terrorismo e o incitamento ao ódio contra os profissionais da comunicação ilustram o desejo do governo de Nicolás Maduro de censurar os meios de comunicação, em total violação dos princípios democráticos fundamentais.

Artur Romeu
Diretor do escritório da RSF para a América Latina

Os jornalistas detidos não podem escolher quem os defenderá. Advogados nomeados pelo tribunal lhes são impostos. Alguns estão detidos em locais desconhecidos até o momento.  Embora as famílias e entes queridos de Paúl León e Eleángel Navas acreditam que podem ter sido transferidos para prisões de segurança máxima, isso não lhes foi confirmado. Além disso, o destino de três jornalistas é particularmente preocupante devido a graves problemas de saúde: Luis López sofre de hipertensão, Gilberto Reina de problemas cardíacos, enquanto José Gregorio Caméras tem síndrome coronariana aguda e lesão coronariana oclusiva.

Os 8 jornalistas presos: 

Luis López, com mais de 60 anos, é jornalista há mais de 27 anos. Trabalhou para a Radio Caracas e o jornal La Verdad em La Guaira, uma cidade costeira ao norte de Caracas, capital do país. É especialista em política e defesa dos direitos comunitários. Preso em 14 de junho quando se encaminhava para uma reportagem, permaneceu indetectável por mais de 24 horas. Atualmente, está detido na prisão El Helicoide, em Caracas, sob as acusações de “incitamento ao ódio” e “associação criminosa”.

Yuosnel Alvarado, 23 anos, é fotojornalista do Noticias Digital. Repórter que cobre a atualidade, sobretudo comunidades e questões políticas, foi preso por oficiais da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) enquanto filmava cidadãos realizando um "cacerolazo" - panelaço - para protestar contra os resultados da eleição presidencial. Acusado de “terrorismo” e “incitação ao ódio”, foi detido no Comando 331 do GNB em Barinas e transferido para o estado de Aragua.

Paúl León, 26 anos, é cinegrafista da VPI TV desde março de 2024, após trabalhar em diversos meios de comunicação esportivos. Foi preso em 30 de julho junto com vários manifestantes em Valera, no estado de Trujillo (noroeste), por agentes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB), durante manifestações na cidade. Detido inicialmente na Divisão de Investigações Criminais da PNB em Carvajal, no estado de Trujillo, ele teria sido transferido para um local não informado a seus familiares em 25 de agosto. É acusado de “terrorismo” e “incitação ao ódio”.

Deysi Peña é fotojornalista com 20 anos de experiência. Foi presa em 2 de agosto por uma patrulha policial por fotografar a manifestação de 30 de julho. Está detida na prisão feminina de Ocumare del Tuy, ao sul de Caracas. Acusada de “terrorismo”, “incitação ao ódio”, “resistência à autoridade”, “vandalismo e danos à propriedade pública e privada”, está atualmente detida por um período mínimo de 45 dias, tempo da investigação.

José Gregorio Camero é produtor e apresentador de um programa de notícias de rádio na Talento 102,7 FM, na região de Valle de la Pascua, no estado de Guarico. Foi detido no dia 3 de agosto por supostos agentes da Direção Geral de Contraespionagem Militar (DGCIM), que se apresentaram encapuzados.  Um tribunal especial contra o terrorismo o condenou a pelo menos 45 dias de prisão enquanto a investigação prossegue.

Eleángel Navas, 25 anos, é fotógrafo e community manager no jornal El Oriental. No dia 3 de agosto, policiais foram à sua casa para prendê-lo por “terrorismo” e “incitação ao ódio”. Quando ele não estava em casa, prenderam sua mãe e sua sobrinha de cinco anos. Obrigaram a mãe do jornalista a chamar o filho para encontrá-lo num local público onde a polícia o prendeu. Ele foi então colocado em detenção por um período de 45 dias durante a investigação. Em 26 de agosto, foi oficialmente transferido para a prisão de Yare, em San Francisco de Yare, no estado de Miranda, mas seus parentes ainda não conseguem contatá-lo.

Gilberto Reina, de 52 anos, cobria notícias locais e políticas para o veículo digital La Sapa del Orinoco em Ciudad Bolívar, no leste do pís. Foi preso em sua casa pelos serviços de contraespionagem (DGCIM).  Está detido por “terrorismo” e “incitação ao ódio”.

Ana Carolina Guaita, 32 anos, cobria diversos temas para o veículo online La Patilla depois de ter sido redatora do Globovision. Foi presa em 20 de agosto, sem mandado, por supostos agentes do Serviço Nacional Bolivariano de Inteligência, quando saía de sua casa em Maiquetia, ao norte de Caracas. Ela estaria detida na Diretoria de Segurança do gabinete do governador em La Guaira, no norte do país, embora sua localização não tenha sido oficialmente confirmada. As acusações contra ela ainda são desconhecidas. A jornalista é filha de dois líderes políticos da oposição. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos concedeu-lhe medidas cautelares.

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Nota: 33,06
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