Brasil: um jornalista atacado online a cada três segundos na última campanha eleitoral
Em seu relatório O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) mostra a que ponto a violência contra a imprensa se banalizou durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro e, mais especificamente, logo antes das eleições. Enquanto o Congresso brasileiro analisa um projeto de lei para regular as plataformas de redes sociais, a organização pede aos parlamentares que considerem a violência online contra jornalistas uma de suas prioridades.
Em somente três meses, no final de 2022, mais de 3,3 milhões de mensagens ofensivas e de intimidação contra jornalistas e meios de comunicação foram registradas, ou seja, uma a cada três segundos. Algumas dessas mensagens alcançaram milhões de usuários. Esses dados foram reunidos no último relatório da RSF intitulado O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil. Os ataques online contra a imprensa nas eleições de 2022 revelam a dimensão da banalização da violência online contra a imprensa durante a última campanha presidencial no Brasil, que levou à eleição de Lula no dia 30 de outubro daquele ano.
Em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), um dos principais centros de pesquisa de referência na análise das redes sociais no Brasil, a RSF acompanhou 121 jornalistas e comentadores, assim como perfis de autoridades públicas e de candidatos às eleições entre 16 de outubro e 15 de novembro de 2022. Ao todo, foram analisadas mais de 24 milhões de postagens no Twitter.
“Esse trabalho gigantesco visava quantificar a violência e compreender melhor as dinâmicas que tornaram as redes sociais um espaço propício aos ataques contra a imprensa, com o claro objetivo de intimidar e silenciar jornalistas, ou ainda de difundir desinformação para criar um clima geral de hostilidade e desconfiança em relação aos meios de comunicação. Num país onde o debate público é muito polarizado, esse fenômeno, que persiste ainda hoje, transformou de maneira perigosa os jornalistas em alvos. É urgente reverter essa tendência.”
Três informações chave presentes no relatório
- As contas que mais atacaram jornalistas durante a campanha eleitoral tinham em comum os temas: apoio ao ex-presidente Bolsonaro, críticas ao candidato Lula e ataques contra a imprensa.
- Cerca de 53% das mensagens ofensivas eram dirigidas a mulheres jornalistas. Entre os 10 jornalistas mais assediados, aos quais um maior número de ofensas era dirigido, sete são mulheres.
- Alguns jornalistas apoiadores do ex-presidente Bolsonaro desempenharam o papel de influenciadores contra outros profissionais da imprensa. Suas contas serviram e continuam a servir para amplificar os ataques contra aqueles que apoiam hoje o presidente Lula.
Em seu relatório, a RSF publicou algumas recomendações preconizando, sobretudo, um reforço das políticas públicas e do arcabouço jurídico para lutar contra o assédio de jornalistas online, com especial atenção à violência contra jornalistas mulheres. O novo Observatório Nacional sobre Violência contra Jornalistas e Comunicadores, iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do qual a RSF é integrante, também deve se debruçar atentamente sobre esse novo mecanismo de censura dos conteúdos que incitam o ódio e a violência.
O Congresso brasileiro está discutindo atualmente um projeto de lei que visa regular as plataformas de redes sociais. A violência online contra jornalistas deve ser levada em conta neste debate.