30ª edição do Prêmio RSF para a Liberdade de Imprensa: revelada a lista de indicados

Quinze jornalistas e meios de comunicação foram selecionados em todo o mundo nas três categorias do prêmio RSF: coragem, impacto e independência do jornalismo. O 30° Prêmio Repórteres Sem Fronteiras (RSF) para a Liberdade de Imprensa 2022 será entregue em 12 de dezembro em Paris na presença do jornalista russo Dmitri Mouratov, Prêmio Nobel da Paz de 2021.

Quinze nomeados concorrem nas três categorias do Prêmio RSF para a Liberdade de Imprensa. Doze jornalistas, incluindo cinco mulheres, e três veículos de comunicação ou organizações de jornalistas foram selecionados para concorrer aos prêmios Coragem, Impacto e Independência. Os indicados, alguns dos quais estão atualmente presos por seu trabalho, são oriundos de 15 países que estiveram no centro das notícias ao longo de 2022, como Ucrânia, Irã, Afeganistão, Birmânia e China.

“Há 30 anos, o prêmio RSF homenageia o trabalho daqueles que encarnam os ideais do jornalismo. Na era digital, os desafios do jornalismo evoluíram, mas a coragem, a independência e a busca de impacto continuam sendo virtudes fundamentais. Aqueles que as encarnam merecem ser homenageados, para serem apoiados. Isso acontecerá especialmente nesta 30a edição, que contará com a presença de um dos seus pares mais prestigiados: o jornalista russo Dmitri Mouratov, Prêmio Nobel da Paz de 2021.

Christophe Deloire
Secretário Geral da Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

A lista de premiados desta 30a edição será divulgada em 12 de dezembro em uma cerimônia conduzida pela apresentadora Daphné Bürki em Paris. O jornalista russo Dmitri Mouratov, um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2021, abrirá a noite, que será pontuada por apresentações da cantora Jane Birkin, conhecida por sua mobilização em favor dos jornalistas birmaneses. 

Ex-ganhadores do prêmio RSF também estarão presentes para entregar os prêmios RSF de 2022: Can Dündar, jornalista turco, especialista em crítica de mídia na Turquia; Lina Attalah, cofundadora e editora-chefe do Mada Masr, jornal egípcio independente; e Matthew Caruana Galizia, jornalista investigativo, filho de Daphne Caruana Galizia, jornalista maltesa morta em 2017 na explosão de seu carro. 

Os indicados ao Prêmio de Coragem são:

Juan Lorenzo Holmann Chamorro (Nicarágua)

Gerente Geral do La Prensa desde 2019, precisou anunciar o fim da edição impressa do jornal em 13 de agosto de 2021, devido à escassez de papel provocada pelo governo de Daniel Ortega. No mesmo dia, a polícia invadiu as dependências do jornal e prendeu Juan Lorenzo Holmann Chamorro. Ele foi transferido para uma das celas da Direção de Apoio Jurídico, consideradas "células de tortura". Permanece detido lá desde então, sem nunca ter conseguido falar com um advogado. Só foi autorizado a ser visitado por sua família sete vezes. Acusado de lavagem de dinheiro, foi condenado a nove anos de prisão, apesar da ausência de provas. O La Prensa continua operando no exílio, em formato digital

 

Mahmoud Al-Otmi (Iêmen)

Jornalista freelancer de Al-Hodeïda, cidade portuária controlada pelos houthis, desde 2014 documenta para a mídia local as violações de direitos humanos cometidas pelo grupo rebelde. Em 2018, fundou em Aden o site almmarsa.com, que se concentra nas províncias ocidentais do Iêmen, governadas pelos houthis. Desde muito cedo, recebeu ameaças de morte por telefone. Seu irmão foi preso no ano seguinte, em retaliação, e seu pai foi forçado a assinar um documento o deserdando. Alguns meses depois, os houthis conseguiram identificar seu local de residência e seu carro. Em 9 de novembro de 2021, quando ia ao hospital para o parto de sua esposa Rasha Al Harazi, também jornalista, seu carro explodiu. Sua esposa e o bebê morreram instantaneamente. Mahmoud Al-Otmi ficou gravemente ferido, mas sobreviveu. Reside agora nos Emirados Árabes Unidos, de onde continua seu trabalho.

 

Huang Xueqin (China)  

Jornalista que fez reportagens investigativas para os jornais Xinquaibao e Southern Metropolis Weekly, Sophia Huang Xueqin dedicou-se nos últimos anos a promover os direitos das mulheres e documentar e denunciar o assédio sexual de mulheres e meninas. Foi presa em 19 de setembro de 2021 em Guangzhou, no sul do país, junto com o ativista sindical Wang Jianbing, suspeito de “incitar a subversão do poder estatal”. Ela estava então se preparando para deixar a China para estudar no Reino Unido. Huang Xueqin já havia sido detida anteriormente por três meses em 2019 por cobrir protestos pró-democracia em Hong Kong. Em 2021, seu artigo sobre a ativista Li Qiaochu, publicado pela Initium Media, recebeu um prêmio de excelência em reportagens sobre questões femininas da Society of Publishers in Asia (SOPA).

 

Narges Mohammadi (Irã) 

Presa regularmente nos últimos 12 anos por sua luta pela liberdade de imprensa e pelos direitos humanos, ela é um símbolo de coragem. Mesmo na prisão, continua informando sobre a terrível situação dos presos, principalmente das mulheres. Sua vida é uma luta, e Narges Mohammadi faz enormes sacrifícios para que sua voz chegue até nós. Casada com um jornalista, Taghi Rahmani, tem dois filhos que não viu crescer: desde 2011, passou apenas alguns meses fora da prisão. Apesar de seus problemas cardíacos, recebeu 154 chibatadas, entre outros maus-tratos e torturas. No entanto, não perde a esperança e continua a apelar à desobediência civil, sempre com um sorriso no rosto. Publicou dezenas de artigos da prisão, produziu um documentário e escreveu um estudo sobre a “tortura branca”, White Torture, com base em entrevistas com 16 detentos.

 

Han Thar Nyein (Birmânia)

Preso apenas um mês após o golpe de fevereiro de 2021, foi um dos primeiros alvos da junta birmanesa em sua caça aos jornalistas independentes. Exatamente dez anos atrás, Han Thar Nyein cofundou a agência Kamayut Media, que forneceu ao mundo informações confiáveis e originais sobre o que acontece na Birmânia. Está atualmente detido na sombria prisão de Insein, nos arredores de Yangon, onde foi vítima de violência extrema e tortura, queimaduras por todo o corpo, ameaças de estupro e de morte. Preso ao mesmo tempo que ele, seu colega Nathan Maung, cidadão estadunidense, foi rapidamente libertado graças a negociações diplomáticas. Han Thar Nyein tem a infelicidade de “ter nascido apenas birmanês” e deverá continuar sua luta na prisão.

Os indicados ao Prêmio de Impacto são:

Mstyslav Chernov e Yevhen Maloletka (Ucrânia) 

Eles são os únicos jornalistas da imprensa internacional a ter documentado as consequências dos combates e bombardeios em Mariupol, na Ucrânia, durante 20 dias, em março passado, para a Associated Press. A foto de uma mulher grávida, ferida após o bombardeio de uma maternidade, em particular, correu o mundo, alertando o mundo para o que estava acontecendo na cidade sitiada. Procurados pelo exército russo devido ao impacto de suas imagens, os jornalistas atuam em condições extremamente difíceis, mas recebem a ajuda de pessoas conscientes da importância do seu trabalho. 

 

Kavita Devi (Índia)

Cofundadora e diretora do Khabar Lahariya, um portal de informações composto exclusivamente por mulheres jornalistas de áreas rurais, tornou-se um símbolo e uma voz para as periferias esquecidas da Índia e das áreas rurais de língua não inglesa ou hindi. Vinda da comunidade dos dalits (antigamente chamada de “intocáveis”), casada aos 12 anos, sua vida parecia pré-determinada: a casa, os filhos, o gado. Mas desde que, com outras estudantes, fundou o Khabar Lahariya em 2002, enfrenta inúmeros desafios. O primeiro: garantir a presença e a voz de mulheres jornalistas, em um setor dominado por homens. O segundo: ecoar a discriminação social, étnica ou religiosa sofrida pelas populações marginalizadas das zonas rurais. Assim, ela faz com que a sociedade indiana avance em direção a uma maior representatividade e autonomia de seus cidadãos e à disseminação de informações plurais e independentes dos círculos tradicionais de poder.

 

Adama Dramé (Mali)

Sem sua determinação, as investigações sobre o caso Birama Touré não teriam avançado. Adama Dramé, diretor de publicação do semanário investigativo Le Sphinx, luta incansavelmente desde que seu colaborador desapareceu em uma noite de janeiro de 2016 em Bamako. Investigações realizadas juntamente com a RSF permitiram determinar que o jornalista havia sido preso, sequestrado, torturado e provavelmente morto nas instalações da segurança do Estado por cobrir assuntos relacionados a Karim Keïta, filho do ex-presidente do Mali destituído por um golpe em 2020. Keïta fugiu para a Costa do Marfim e hoje é procurado pelo sistema judiciário do seu país – um mandado de prisão foi emitido contra ele. O ex-chefe dos serviços de inteligência, general Moussa Diawara, por sua vez, foi preso. Temendo por sua vida, o jornalista teve que se exilar para continuar seu trabalho investigativo e espera um dia saber a verdade sobre o desaparecimento de seu colaborador.

 

Amazônia Real (Brasil)

Fundada em 2013, a Amazônia Real é uma agência de jornalismo independente dirigida exclusivamente por mulheres, que faz jornalismo ético e investigativo. A agência dá voz às populações da região que não têm acesso à mídia tradicional e produz pesquisas multimídia sobre o impacto das mudanças climáticas, das enchentes e do desmatamento sobre os povos indígenas. Seus alertas recentes sobre confrontos entre a polícia e garimpeiros ilegais, o uso de novos pesticidas industriais ou as expropriações de comunidades locais são difundidos na imprensa nacional. Organização sem fins lucrativos, a agência não aceita financiamento público ou recursos de pessoas ou empresas envolvidas em crimes ambientais, trabalho forçado e violência contra a mulher. Em 2022, produziu reportagens esclarecedoras sobre as condições de trabalho da imprensa na Amazônia e o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira.

 

Reporters United (Grécia) 

A Reporters United é uma rede de repórteres com o propósito de apoiar o jornalismo investigativo na Grécia, colaborando em investigações transfronteiriças com jornalistas e meios de comunicação internacionais e publicando histórias que muitas vezes têm dificuldade para chegar à imprensa grega. A rede enfrentou tentativas de intimidação, com processos abusivos (SLAPP) que visavam impedi-la de acessar informações públicas. Porém, extremamente atenta à transparência do seu financiamento e à sua independência, a Reporters United revelou grandes escândalos, como a vigilância de jornalistas, danos ambientais e a corrupção na gestão migratória. Ilha de profissionalismo jornalístico em um mar de polarização e propaganda governamental, a rede enfrenta alguns dos principais problemas de liberdade de imprensa na Grécia, país da União Europeia com pior classificação no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2022.

Os indicados ao Prêmio da Independência são:

TOLO news (Afeganistão) 

O canal de televisão privado Tolo News (vencedor do prêmio RSF de Liberdade de Imprensa de 2005 e da medalha da Cidade de Paris de 2016 para heróis da informação) trabalha sob a pressão dos talibãs desde que estes assumiram o controle do país, em 15 de agosto de 2021. É um dos maiores canais privados de notícias do Afeganistão e suas reportagens imparciais e baseadas em fatos refletem os princípios do jornalismo. Seu trabalho evidencia o fato de que reportagens imparciais podem e devem ser a regra em qualquer circunstância.

 

Omar Radi (Marrocos) 

Jornalista investigativo e ativista de direitos humanos, apura há mais de dez anos temas ligados à corrupção e sofre com assédio judicial. Um inquérito por "espionagem" foi instaurado em junho de 2020 depois que a Anistia Internacional revelou que seu telefone foi hackeado por meio do software Pegasus. Um mês depois, ele foi preso após uma denúncia de estupro. Os dois casos foram tratados em conjunto, o que suscitou dúvidas sobre a idoneidade de seu julgamento – ainda mais considerando-se que ele já estava na mira das autoridades há muitos anos. Em dezembro de 2019, foi condenado a quatro meses de prisão por "desacato ao tribunal" devido a um tuíte publicado oito meses antes. Contestando sua prisão preventiva, Omar Radi entrou em greve de fome, que precisou encerrar após 21 dias por ser portador da doença de Crohn. Desde então, está bastante debilitado.

 

Lady Ann Salem (Filipinas) 

Trabalhando em sintonia com a via aberta por Maria Ressa, ela faz parte de uma nova geração de jornalistas filipinos que é considerada o “futuro da profissão” no país. Vítima de “red-tagging”, foi detida e encarcerada no final de 2020 por “terrorismo” e “esquerdismo” depois que a polícia plantou armas de fogo em sua casa. Foi inocentada em fevereiro de 2021, mas permaneceu detida e só foi realmente libertada um mês depois – ainda que sua prisão tivesse sido considerada "nula e sem efeito" pela justiça. Editora-chefe do Manila Today, coordena a rede de meios de comunicação alternativos Altermidya, que publica artigos aprofundados, reportagens de campo e investigações com foco nos segmentos da sociedade filipina marginalizados na grande mídia. Integrante da IAWRT (International Association of Women in Radio and Television), também luta pelos direitos das mulheres. 

 

Bettie K. Johnson Mbayo (Libéria) 

Jornalista freelancer, recusou todos os financiamentos oferecidos por representantes do governo quando fundou, em 2020, The Stage Media, uma organização de checagem de fatos e jornalismo investigativo. É uma das vozes essenciais da informação na Libéria. Suas reportagens permitiram documentar pelo menos seis escândalos relacionados a política, corrupção, direitos humanos e gênero. Após revelar um caso de corrupção, ofereceram-lhe um cargo nas relações públicas do governo – ela recusou. As pressões também afetam sua família. Devido à publicação de um artigo sobre uma mulher obrigada a permanecer em um hospital por não poder pagar as contas médicas, o marido da jornalista, médico, regularmente acusado de não “controlar sua esposa”, foi ameaçado pelo diretor do hospital. Bolsas de estudo internacionais também foram oferecidas ao casal para mantê-los longe dos assuntos do país.

 

Bolot Temirov (Quirguistão) 

Assediado e vigiado pelas autoridades, Bolot Temirov, personalidade do jornalismo investigativo no país, resiste a pressões judiciais e chantagens para continuar publicando suas reportagens. Além das acusações de posse de drogas (plantadas em seu bolso pela polícia durante uma busca em fevereiro), está sendo processado pela Kyrgyz Petroleum Company por um de seus vídeos. Três novos processos criminais foram abertos em abril. Temirov também foi alvo de "vazamentos" na internet: vídeos privados, produzidos com uma câmera escondida, foram gravados e divulgados ilegalmente. Funcionários de seu canal no YouTube, Temirov Live, e sua esposa foram interrogados pela polícia. Apesar disso, o jornalista persiste em publicar suas reportagens, principalmente sobre corrupção.

 

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O júri desta 30ª edição é composto por eminentes jornalistas ou defensores da liberdade de expressão de todo o mundo: Rana Ayyub, jornalista indiana e colunista de opinião no Washington Post; Raphaëlle Bacqué, grande repórter francesa do jornal Le Monde; Mazen Darwish, advogado sírio e presidente do Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão; Zaina Erhaim, jornalista síria e consultora em comunicação; Erick Kabendera, jornalista investigativo tanzaniano; Hamid Mir, editor-chefe, colunista e escritor; Frederik Obermaier, repórter investigativo do jornal de Munique Süddeutsche Zeitung; e Mikhail Zygar, jornalista e editor-chefe fundador do único canal de televisão independente da Rússia, Dozhd. O trabalho do júri foi liderado pelo presidente da RSF, o jornalista e colunista francês Pierre Haski.

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